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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Retiro V. Salvo por puro amor




Dom Henrique

Israel deverá saber que a libertação do Egito foi essencialmente uma obra de amor – como você, cristão, foi libertado em Cristo da treva da morte por puro e gratuito amor: “Quando Israel era um menino, eu o amei e do Egito chamei meu filho” (Os11,1). “Ele feriu o Egito em seus primogênitos, porque o seu amor é para sempre. E fez sair Israel do meio deles, porque o seu amor é para sempre” (Sl 136,10s). Amor surpreendente, tão apaixonado que fere os primogênitos do Egito! E, no entanto, o Senhor ama a toda criatura! Um dos textos judeus da narrativa da Páscoa diz que quando o Senhor afogou os egípcios, os anjos, ao verem os corpos dos soldados de faraó boiando no Mar Vermelho, cantaram e bateram palmas. Então o Senhor os repreendeu: "Como podeis vos alegrar quando minhas criaturas perecem?" Mistério! Insisto: não se pode compreender o Deus santo; Ele não se enquadra na nossa lógica!

A libertação do Seu povo da servidão no Egito será a grande obra do Senhor em favor do seu povo, a obra fundante da identidade de Israel. A partir de agora, o Senhor apresentar-se-á sempre como o Deus libertador, o que está aí, aí para salvar: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te libertou do Egito, do antro de escravidão. Não terás outros deuses além de mim” (Ex 20,2s). Sempre que Israel precisar recordar a identidade do seu Deus e sua própria identidade mais profunda, deverá recordar a saída do Egito, a Páscoa.

O Senhor instituiu a celebração pascal como memorial perene do seu amor e fidelidade, para que Israel possa sempre encontrar sua força e inspiração na celebração de tudo quanto o Senhor fez em seu favor. Na mentalidade judaica, o memorial é um rito no qual, pelas palavras, gestos e símbolos da celebração, torna-se realmente presente e atuante o acontecimento celebrado. Assim sendo, celebrando tal memorial, Israel deverá sempre recordar o amor atuante do seu Deus, um Deus comprometido e que, teimosamente, age na noite, nas noites da vida! Este recordar é estrutural na tradição judeu-cristã. Nossa fé vive de memorial, do tornar realmente presente o acontecimento libertador do passado... Esquecer é sinal de leviandade, de superficialidade. Fazer memorial é tornar presente e atuante o que o Senhor fez em nosso favor, encontrando aí inspiração e força para o futuro: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua” (Ex 12,14). “Quando o Senhor teu Deus te introduzir na terra que jurou a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó, dar a ti, com cidades grandes e belas que não edificaste, casas cheias de toda espécie de bens que não acumulaste, cisternas já escavadas que não cavaste, vinhas e oliveiras que não plantaste; e quando comeres e te fartares, guarda-te de esquecer o Senhor que te libertou do Egito, do antro de escravidão. Temerás o Senhor teu Deus, a ele servirás e pelo seu nome jurarás. Não seguirás outros deuses, dentre os deuses dos povos vizinhos, porque o Senhor teu Deus, que mora no meio de ti, é um Deus ciumento. Não suceda que a cólera do Senhor teu Deus, inflamando-se contra ti, venha a exterminar-te da face da terra. Guardai com grande cuidado os preceitos do Senhor vosso Deus, os mandamentos e as leis que vos dá. Faze o que é reto e bom aos olhos do Senhor para que sejas feliz e possas entrar e tomar posse da boa terra, da qual o Senhor jurou a teus pais que haveria de expulsar todos os inimigos, como ele mesmo disse. Quando amanhã o filho te perguntar: ‘Que significam estes mandamentos, estas leis e estes decretos que o Senhor nosso Deus nos prescreveu?’ então responderás ao filho: ‘Nós éramos escravos do Faraó e o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa. O Senhor fez à nossa vista grandes sinais e prodígios terríveis contra o Egito, contra o Faraó e contra toda sua casa. Libertou-nos de lá para nos conduzir à terra que, com juramento, prometera a nossos pais. O Senhor mandou que cumpríssemos todas estas leis e temêssemos o Senhor nosso Deus, para que fôssemos sempre felizes e nos conservasse vivos, como nos faz hoje. Seremos justos, se guardarmos os seus mandamentos e os observarmos diante do Senhor nosso Deus, como ele nos mandou’” (Dt 6,10-25).



Ora, otudo quanto o Senhor fez por Israel era preparação para a nossa Páscoa em Cristo. Assim, raiz e cume de todo memorial é a Eucaristia, na qual o Novo Israel, que é a Igreja, celebra a Páscoa definitiva: com Cristo e em Cristo, saímos da morte do pecado, atravessamos o Mar Vermelho das águas batismais e começamos a travessia no deserto deste mundo para a Terra Prometida do céu. Porque Cristo passou da condição de Servo que, por nosso amor, assumiu nesta vida, atravessando o Mar da morte e entrando na Terra Prometida da Glória do Pai, nós também, por Ele e com Ele, vamos fazendo nossa Páscoa na vida de cada dia e celebrando-a realmente em cada Eucaristia.

Assim começa a história de Israel com o seu Deus, um Deus que ele vai conhecendo à medida que o experimenta na sua vida!



Para pensar e rezar:

= Medite neste textos: Ex 14 – 15; Sl 114(113A); Sl 30(29); Eclo 2

= O Senhor também te libertou, fazendo-te passar nas águas do Batismo.

= Tu deves celebrar dominicalmente esta libertação, participando do Sacrifício eucarístico, em que o Cordeiro pascal torna perenemente presente a Sua oferta ao Pai por nós!

= A salvação é dom, é amor gratuito de Deus. É preciso abrir humildemente o coração para acolher tal dom: não é direito; é graça!

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