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quinta-feira, 1 de março de 2012

Retiro. VIII. Um povo esquecido e teimoso


Dom Henrique
Partindo de Mara (= amargura), o povo chegou a Elim: ali, esquecendo-se de tudo quanto vira o Senhor realizar em seu favor, esquecendo-se também das provações e da amargura da escravidão, o povo murmurou novamente: “Toda a comunidade dos israelitas pôs-se a murmurar contra Moisés e Aarão no deserto, dizendo-lhes: ‘Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura! Trouxestes-nos ao deserto para matar de fome toda esta gente!’” (Ex 16,2s).

São os dois pecados fundamentais de Israel no deserto: a murmuração e o esquecimento: aquela é filha deste. Israel esquece facilmente as provas de amor do Senhor e, esquecendo-se já não vê o seu Deus, e tirando o Senhor de sua perspectiva, da sua vida concreta, murmura.

Observemos aqui a dinâmica da murmuração de Israel: primeiro é de uma má vontade impressionante: esquece o quanto sofria no Egito: sua humilhação, sua escravidão, os recém-nascidos jogados no Nilo! Ingrato para com Deus, mal-agradecido, chega a esnobar a obra amorosa do Senhor: era melhor termos morrido no Egito!

Israel sente saudades das míseras panelas de carne – carne de escravidão! – que comia no Egito! E, na sua leviandade, na sua estreiteza de visão, volta-se contra Moisés e Aarão: “Por que nos tirastes do Egito?” Ora, não foram Moisés e Aarão, mas o Senhor que o tirou do Egito!

No entanto, como já foi dito, a murmuração impede de ver com os olhos da fé, de contemplar na perspectiva de Deus! Israel é de memória curta: não é capaz, no momento de crise e escuridão, de recordar os momentos de luz em que Deus esteve ao seu lado!

Portanto, Israel é espiritualmente preguiçoso, medíocre: preferia o comodismo da escravidão ao desafio da liberdade! Este povo não sabia ainda que seus tempos e seus modos não são os tempos e modos do Senhor; tinha a cerviz dura e queria as coisas do seu modo! Por isso chegou a ser extremamente cruel na sua ingratidão! O Senhor, na sua misericordiosa paciência, deu-lhe o maná e, novamente, pôs o povo à prova: “O Senhor disse a Moisés: ‘Vou fazer chover do céu pão para vós. Cada dia o povo deverá sair para recolher a porção diária. Assim vou pô-lo à prova, para ver se anda, ou não, segundo a Minha lei. Mas no sexto dia quando prepararem o que tiverem trazido terão o dobro da coleta diária’” (Ex 16,4s).

Quanto ao maná, sinal do cuidado e do carinho do Senhor Deus para com o Seu povo, só poderia ser recolhido por um dia; é como o pão que o Senhor Jesus nos ensina a pedir: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje!” Assim, “Moisés lhes disse: ‘Ninguém guarde nada para amanhã” (Ex 16,19). Mas, não tem jeito: Israel é como eu, como você: é teimoso e desconfiado em relação a Deus; não consegue abandonar-se totalmente à providência do Senhor: “Alguns desobedeceram a Moisés e guardaram o maná para o dia seguinte; mas ele bichou e apodreceu!” (Ex 16,20). Não adiante: o que construímos como apego, como muleta, como falsa segurança, bicha, apodrece! Somente no Senhor está a vida perene; somente o Senhor é a rocha da nossa existência! Daí a queixa de Moisés, que é a queixa do Senhor Deus: “Até quando recusareis guardar Meus mandamentos e Minhas leis?” (Ex 16,28) – esta pergunta o Senhor nos faz! Quanto somos também nós teimosos e desconfiados em relação ao Senhor! Até quando?

Para terminar: “O Senhor ordenou que se encha um jarro de maná para guardá-lo, a fim de que as gerações futuras possam ver com que alimento vos sustentei no deserto, quando vos fiz sair da terra do Egito” (Ex 16,32) Eis: o Senhor não quer que Seu povo esqueça Suas obras na vida de seus fieis! Que vendo recordem, recordando creiam e crendo obedeçam e amem o Senhor no presente da vida! Também hoje, o Senhor deixa para a Sua Igreja, novo Israel, o perene maná, sinal máximo do Seu amor e da Sua presença no meio do Povo santo: a Eucaristia, alimento que o próprio Pai no dá como fonte de vida verdadeira, que não estraga e não bicha!



Para pensar e rezar:

= A raiz de todo o pecado é o esquecimento de Deus e de Suas obras em nosso favor. Procure hoje recordar, agradecido, todo o caminho que o Senhor o fez percorrer nesta vida. Recorde quantas vezes o Senhor mostrou sua presença em tantas situações da sua existência! Ele é o deus fidelíssimo; Nele se pode confiar!

= Seu coração é um coração fiel em relação ao Senhor ou, ao invés, é um coração velhaco e esquecido?

= O pecado, por triste que seja, deixa saudades, como as carnes do Egito... É preciso combater as marcas que o pecado deixou em nós. É preciso curar as lembranças, não alimentando a recordação saborosa e gozosa dos pecados cometidos. Lembre-se somente de uma coisa: de Jesus Cristo morto e ressuscitado por você!

= Muitos israelitas procuram fazer provisão e reserva de maná. Não confiam na providência de Deus. E você, confia? Procure responder com fatos e atitudes concretas!

= Lembre: o que construímos como apego, como muleta, como falsa segurança, bicha, apodrece!

= Para viver: procure fazer da Eucaristia perene e feliz memorial do grande dom de amor que o Senhor nos fez: o Seu Filho amado, nossa vida e salvação!

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