Nasceu
em Fontíveros (Espanha), cerca do ano de 1542. Depois de algum tempo passado na
Ordem dos Carmelitas, tornou-se a partir de 1568 o primeiro dos frades na
reforma de sua Ordem, persuadido por Santa Teresa de Jesus, tendo por isso
suportado inúmeros sofrimentos e trabalhos. Morreu em Úbeda, no ano de 1591,
com grande fama de santidade e sabedoria, de que dão testemunho as obras
espirituais que escreveu
Noite Escura - Poema de São João da Cruz
Em uma noite escura
De amor em vivas ânsias
inflamada
Oh! Ditosa aventura!
Saí sem ser notada,
Estando já minha casa
sossegada.
Na escuridão, segura,
Pela secreta escada,
disfarçada,
Oh! Ditosa aventura!
Na escuridão, velada,
Estando já minha casa
sossegada.
Em noite tão ditosa,
E num segredo em que
ninguém me via,
Nem eu olhava coisa
alguma,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me
ardia.
Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do
meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em lugar onde ninguém
aparecia.
Oh! noite, que me
guiaste,
Oh! noite, amável mais do
que a alvorada
Oh! noite, que juntaste
Amado com amada,
Amada, já no amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só
guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna o regalava,
E dos cedros o leque o
refrescava.
Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos
afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos
transportava.
Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o
Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado,
Por entre as açucenas
olvidado.
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