Marcadores

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Retiro. VII. A amargura da murmuração


Dom Henrique

Agora, acompanharemos algumas das etapas de Israel no caminho do deserto. Lembremo-nos: o caminho de Israel é o nosso caminho! Nunca percamos de vista a palavra da Escritura a respeito do Antigo Testamento: “Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés; todos comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma bebida espiritual; de fato, bebiam de uma rocha espiritual que os acompanhava. Essa rocha era o Cristo. No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus e, por isso, caíram mortos no deserto. Esses acontecimentos se tornaram símbolos para nós, a fim de não desejarmos coisas más, como eles desejaram. Não vos torneis idólatras, como alguns deles, segundo está escrito: “O povo sentou-se para comer e beber; depois, levantaram-se para se divertir”; nem nos entreguemos à prostituição como se entregaram alguns deles, vindo a morrer vinte e três mil num só dia; nem ponhamos à prova o Senhor, como fizeram alguns deles, os quais morreram, picados pelas serpentes; nem murmureis, como alguns deles murmuraram e, por isso, foram mortos pelo Exterminador. Estas coisas lhes aconteciam com sentido figurativo e foram escritas como advertência para nós, a quem chegou o fim dos tempos” (1Cor 10,1-11).

Ao sair do Egito o povo caminhou três dias rumo ao sul, sem encontrar água. Ao encontrá-la, era amarga e o povo murmurou: “Moisés fez partir Israel do mar Vermelho. Tomaram a direção do deserto de Sur. Caminharam três dias pelo deserto sem achar água. Chegando a Mara, não puderam beber a água de Mara, por ser amarga; por isso deram ao lugar o nome de Mara. O povo murmurou contra Moisés, dizendo: ‘Que vamos beber?’ Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor lhe indicou um tipo de planta que ele jogou na água, e esta tornou-se doce. Foi ali que Ele deu ao povo uma lei e um direito, e os pôs à prova. Disse-lhes: ‘Se de fato escutares a voz do Senhor teu Deus, se fizeres o que é reto a Seus olhos, se deres ouvido a Seus mandamentos e observares todas as Suas leis, não te causarei nenhuma das enfermidades que causei aos egípcios, pois Eu sou o Senhor que te cura’” (Ex 15,22-26).

A murmuração será uma constante no comportamento de Israel, sinal de esquecimento, ingratidão e falta de fé, sinal de um coração velhaco e leviano! Que é murmurar? É reclamar, é em voz baixa ou no silêncio do coração criticar continuamente, lamentar o tempo todo, especular de mau ânimo como deveria ser e não é, o que deveria acontecer e não aconteceu, o que deveria ter e não há... Assim, se está sempre insatisfeito, sempre numa atitude de reivindicação e de má vontade.

A murmuração brota da incapacidade de contemplar, de pensar e sentir em profundidade, de descobrir o sentido por trás dos acontecimentos! Ela destrói a fé, destrói qualquer comunidade e envenena os corações. A murmuração azeda as relações numa família, no trabalho e, sobretudo, no ambiente de fé da comunidade de irmãos, que é a Igreja. Vê-se somente a casca, a superfície. Torna-se incapaz de ver a ação de Deus e Sua santa presença por trás dos acontecimentos e das pessoas...

Israel murmurará contra a sede, contra a fome, contra os perigos da guerra. Também serão uma constante as provas pelas quais o Senhor fará Israel passar, para que ele conheça o fundo de seu próprio coração: somente se conhecendo a si, Israel será capaz de conhecer realmente o seu Deus e entrar em comunhão com ele: “Lembra-te de todos os caminhos que o Senhor teu Deus te fez andar nestes quarenta anos pelo deserto, para te humilhar e te provar, para conhecer tuas intenções, e saber se observarias ou não os mandamentos. Reconhece, pois, em teu íntimo que, como um homem corrige o filho, assim o Senhor teu Deus te corrige. Guarda os mandamentos do Senhor teu Deus, para andares por seus caminhos e o temeres. Guarda-te bem de esquecer o Senhor teu Deus, deixando de observar os mandamentos, os decretos e as leis que hoje te prescrevo. Ele, que te conduziu através do deserto grande e terrível, cheio de serpentes venenosas e escorpiões, de terra árida e sem água, fez brotar água de rocha duríssima 16 e te deu para comer no deserto o maná que teus pais não conheciam, a fim de te humilhar e provar, visando a teu bem futuro” (Dt 8,2.5s.11.15s).



Para pensar e rezar:

= Neste deserto da vida, como tenho olhado a realidade ao meu redor: com os olhos da fé ou, simplesmente, numa dimensão meramente deste mundo?

= Tenho murmurado diante das situações e pessoas que me colocam em dificuldade?

= Pense nisto: murmuro quando vejo as coisas simplesmente na minha medida. Só há um modo de ver e avaliar à medida do Senhor: rezando! Compare a atitude do povo, que murmura com a atitude de Moisés, que reza... Quem reza volta-se para Deus e Nele encontra direção e esperança; quem não reza se perde na murmuração e na superficialidade de visão. Quem reza se salva porque se liberta de si próprio! Prometa nesta Quaresma largar o vício da murmuração!

= Israel estava no deserto sem água; era sua própria existência que estava em perigo. Tratava-se de uma situação grave. Ao invés de rezar, murmurou...

= Pense: as dificuldades da vida são também provas para conhecermos o que temos no coração! O que há no seu coração? Pense diante do Senhor Deus!

= Deus deseja curar seu coração ferido: “Se de fato escutares a voz do Senhor teu Deus, se fizeres o que é reto a Seus olhos, se deres ouvido a Seus mandamentos e observares todas as Suas leis, não te causarei nenhuma das enfermidades que causei aos egípcios, pois Eu sou o Senhor que te cura”. Que tal dar realmente espaço para Ele na sua vida?

= Você compreende pedagogia de Deus na sua vida? Lembre que Ele te educa como um pai educa o seu filho! Se você rezar, compreenderá...

= Releia cuidadosamente os textos bíblicos acima...

= Uma última coisa: essa planta que adocicou a água amarga é imagem da árvore da cruz que, tocando a tanta amargura deste mundo, tornou-se doce pelo amor do Coração do nosso bendito e santo Deus Salvador Jesus! Que Ele toque e torne doce o seu coração tanta vez amargurado e amargo! Suplique ao Senhor essa cura! Da murmuração e da amargura...

Nenhum comentário:

Postar um comentário